sexta-feira, 18 de julho de 2008

One Shot - Promessa

Aqui estou eu novamente, desta vez venho postar uma one shot. Os comentários não fazem mal a ninguém :) As vossas opiniões são bem-vindas!

Estava sentada na varanda do meu quarto de hotel em Lisboa. Era noite, as estrelas brilhavam no céu, mas o brilho da lua era mínimo. Tirei umas férias por uma semana, precisava de sair da minha cidade, pensar na vida. Levantei-me e olhei para baixo, havia imensas pessoas à porta do hotel, a maior parte adolescentes. Era impossível dormir, aquelas adolescentes não paravam de cantar músicas em alemão, segundo a menina da recepção estava ali instalada no hotel uma banda bastante famosa que iria dar um concerto em Portugal. “Se é famosa eu não conheço”, respondi imediatamente àquela menina com ar frágil. Naquele momento dei graças por saber falar alemão, pelo menos sempre se percebia o que elas cantavam. Sentei-me novamente e olhei para dentro do quarto. Estava desarrumado, ainda não tinha tocado na comida, estive sem comer o dia todo, e todo o dia tinha chorado. Dias antes tinha terminado um namoro de 2 anos, descobri que ele me tinha traído, fiquei destroçada e daí a minha necessidade de organizar as ideias longe de toda a gente.

Sentava-me no chão, encostava as costas às portas de vidro que separavam o quarto do exterior. As raparigas que teimavam em não se calar gritaram mais estridentemente, achei um perfeito desperdício, e para alem disso deviam estar a contribuir para a poluição sonora. Olhei para o lado e vi quatro rapazes entre os 18 e os 22 anos na varanda junto à do meu quarto. Percebi imediatamente que aquelas quatro figuras eram os membros da tal banda, eles sorriam e acenavam às fãs histéricas. Um deles desviou o olhar e fixou-o em mim, era o mais alto, tinha um cabelo preto pelos ombros, contemplou o meu ser por alguns segundos até que ouvi um senhor todo vestido de preto, de cabelo grisalho e de óculos dizer em alemão “já chega”, todos voltaram para dentro, excepto aquele rapaz que continuava a olhar fixamente para mim. Mais um gole do copo de martini que tinha ao meu lado e ele aproximou-se o mais possível da varanda que naquele momento me pertencia.

- I’m sorry, it’s everything fine with you?

- Eu falo alemão – respondi-lhe em alemão claro.

- Está tudo bem? – parecia preocupado comigo, mesmo não sabendo quem eu era.

- Vai estar, em breve tudo estará bem…

- Se precisares de falar podes contar comigo.

Levantei-me novamente e aproximei-me dele, senti que o conhecia, ao olhar para os seus olhos recuo e volto a cair no chão, nesse preciso momento o mesmo homem de preto manda-o entrar. Aquele era o olhar que me visitava em sonhos desde que acabara aquele namoro, todas as noites sentia aquele olhar a observar-me e por vezes tinha medo de adormecer. Peguei no copo e bebi um último gole, o martini tinha acabado. Olhei uma vez mais para o quarto, de cima da cama tinha dois envelopes, um para os meus pais e outro para quem quisesse ler, sem destino traçado. Pousei o copo e ergui-me, aproximei-me das grades da varanda e debrucei-me sobre o solo, estava a uma altura suficiente para não sobreviver a uma queda dali, as fãs já não cantavam, estavam bastantes calmas. Respirei fundo, o meu ultimo respirar, contemplei uma vez mais as estrelas. “Uma noite perfeita para morrer”. Subi para as grades, primeiro um pé, depois o outro, e sentei-me no cimo delas. As minhas mãos apertavam o cimo da grade, olhei uma vez mais para baixo e vi muita gente a olhar para cima, apontavam para mim e vi expressões de horror nas suas caras. Cuidadosamente, apoio os meus pés na varanda, mas desta vez na parte de fora, encostei o meu tronco às grades e preparei-me para voar. “Adeus mundo”

A força gravítica fez o seu trabalho e senti o corpo leve por segundos, voltei a sentir-me pesada novamente, alguém me impedia de cair, alguém, do outro lado das grades, fazia de tudo para não me deixar morrer. Não lhe via a cara, estava escuro, mas apercebi-me de mais pessoas no quarto onde anteriormente eu estivera, a partir daí, não me lembro de mais nada.

*

Acordo num quarto de hospital. Sentado num cadeirão, com a cabeça deitada na minha cama, estava ele, aquele rapaz misterioso da varanda, o rapaz que possuía aquele olhar dos meus sonhos, tinha a sua mão sobre a minha. Mexi-me, tinha o corpo dorido de estar ali deitada, o rapaz levantou a cabeça e olhou para mim, tinha os olhos vermelhos, como se estivesse a chorar há pouco tempo.

- O que estou aqui a fazer?

- Estavas a acabar com a tua vida, mas eu consegui segurar-te a tempo, depois desmaias-te e os seguranças trouxeram-te para o hospital. – falava comigo calmamente, com uma doçura inexplicável.

- Porque me salvas-te? Tu não me conheces, não sabes quem sou…

- Sei porque o fizeste, sei porque querias acabar com a tua vida. Quando olhei para ti era como se te conhecesse há anos e percebi que estavas mal, então ia ao teu quarto para falarmos quando vejo…

- Quem és? – perguntei, baralhada, mas curiosa ao mesmo tempo.

- Sou… chamo-me Bill. E tu?

- Sam… Nasci na Alemanha, mas desde pequena que vivo em Portugal.

Bill contou-me tudo o que aconteceu. Passados dez dias tive alta do hospital e aquele rapaz levou-me consigo para o hotel. Apresentou-me os outros três rapazes que estavam com ele na varanda. Descobri que eles formavam um banda, os Tokio Hotel, Bill era o vocalista. Eles não mais me largaram, não voltei a ver os meus pais nem o outro rapaz, aqueles olhos continuavam a visitar-me todas as noites, mas, agora, já não tinha medo de adormecer, pois por baixo daquele olhar sentia-me segura.

*

Tinham passado dois meses desde a tentativa de suicídio de Sam, Bill estava sentado com um dos envelopes na mão. Continuava por abrir, não resistiu mais e começou a ler.

“Seja lá quem for que está a ler, obrigada por me dar um bocado de atenção. Decidi acabar com a minha vida, estou farta de viver assim, fui traída pelo meu namorado e tenho imensas discussões com os meus pais, não tenho amigos, todos eles me abandonaram, estou sozinha no mundo. Já não há ninguém para me procurar, para ter saudades minhas, para sentir a minha falta…”

Uma lágrima caiu pela face de Bill, não teve coragem de acabar de ler. Fazia um mês que Sam não resistira à pressão e se atravessara na rua, sendo colhida por um camião. O ex-namorado tinha ido ao seu encontro e ela, destroçada, não aguentou. Bill levantou-se daquele cadeirão no quarto da sua casa na Alemanha e, deixando cair a carta de Sam, dirigiu-se para a varanda. A banda não tinha concertos desde a morte da rapariga, Bill não se concentrava e nada saía bem. Olhou para baixo, com uma foto dela junto ao peito.

- Eu prometi-te que iríamos voltar a estar juntos, está na hora de cumprir a minha promessa.

Bill cai no chão, nesse preciso momento Tom, seu irmão gémeo, ia a passar por baixo da varanda e assiste ao suicídio do seu irmão.

- Bill…

Corre para o meio da estrada e, mesmo vindo um carro, não se desvia.

“Bill e Tom Kaulitz: O fim trágico da banda Tokio Hotel, os gémeos suicidam-se

Dois meses após Bill Kaulitz, vocalista da banda, ter evitado o suicídio de uma jovem (que um mês depois acabou por se suicidar mesmo), o jovem comete o mesmo acto. Os dois irmãos foram encontrados na rua, Bill, presume-se, atirou-se da varanda do seu quarto e Tom, ao ver o irmão morrer, atravessa-se na estrada, acabando por ser colhido por um carro. Acaba assim a banda alemã com mais sucesso entre os adolescentes, maioritariamente do sexo feminino, em todo o mundo.”

- Vieste… Mas acabaste por não vir sozinho… – disse eu, Sam.

1 comentário:

Chris disse...

Linda one shot...

Tu sabes que eu adoro os teus trabalhos!!!

Küss***